No Brasil as universidades passaram da doutrinação ideológica para a pregação de fé religiosa em uma hipótese de futuro baseada em um ideal comunista que pratica crítica unilateral do capitalismo, sobre o comunismo e seus genocídios nada pode ser dito. Alunos idiotizados formam e unem-se a movimentos sociais que acreditam piamente estar em busca do bem, mas que apenas servem de massa de manobra para seus líderes, que tudo que desejam no final das contas é fazer o comunismo.
Acontece que “fazer o comunismo”, em todos os moldes da história da humanidade, seja por via da revolução armada, por via social democrata fabiana, ou por via cultural gramsciana, sempre resulta em genocídio, pois, demoniza e condena todos aqueles que não concordam com a linha ideológica. Em outras palavras: não há caminho pelo qual o comunismo não termine em genocídio.
Se é ensinado aqui que “o comunismo acabou com a queda do Muro de Berlim”, em 1989, no resto do mundo ninguém duvida que ele continua ativo, vivo, atuante, com fome de poder, e expandido-se como um vírus que se modifica num sistema imunológico imperfeito de um corpo fraco.
É nesse sentido de despertamento em tom de denúncia, que Blaine Harden, autor de Fuga do Campo 14, entregou esta obra maravilhosa, densa, e inquestionável.
O livro expõe em seus 23 capítulos a situação da Coreia do Norte e seu semi-deus Kim Jong-un, de maneira a tornar incontestável que a contagem dos corpos dos assassinados pelo comunismo ainda não chegou ao fim, a somatória cresce, e cresce em vulto assombroso. Em pleno século XXI, uma criança nascida no mais rígido dos 18 campos de concentração da ditadura comunista norte-coreana, o Campo 14, passa por torturas físicas e psicológicas, em meio a fome e constantes surras, Shin Dong-hyuk vê sua mãe e irmão sendo executados, e seu pai ser torturado, cresce, se torna um adolescente debilitado, e através de um novo prisioneiro recém-chegado do mundo exterior, descobre que existe algo além das cercas eletrificadas em alta voltagem, e consegue por puro milagre finalmente fugir. O problema não termina com a fuga, ainda tem que lidar com as autoridades chinesas que devolvem fugitivos para o regime. Num golpe de muita sorte consegue chegar à Coreia do Sul e finalmente aos EUA, onde reside hoje.
Esta é para os dias atuais, uma das mais importantes leituras, é capaz de ampliar o horizonte de consciência demonstrando o que é na prática o comunismo.
Eu não só recomendo, como afirmo que a leitura é obrigatória.
Dada a importância desta obra, nesta resenha resolvi fazer diferente, resumi capítulo a capítulo, e para quem quiser saber mais, segue abaixo.
Introdução – Nunca ouviu a palavra “amor”
Harden fala sobre seu encontro com Shin, suas fontes de pesquisa diversas, a dificuldade de seu trabalho dados o estado mental do garoto e a escassez de informações sobre a Coreia do Norte, e aspectos do regime comunista do país; bem como a existência de aproximadamente 20 campos de concentração de trabalhos forçados, o número aproximado de cidadãos norte coreanos presos, os motivos fúteis pelos quais vão presos, e a extensão territorial dos campos.
Capítulo 1 – O menino que comia o almoço da mãe
Aborda a fome que o garoto aos 10 anos de idade, seus amigos, pais, e demais sofriam dentro do campo de concentração comunista, e também fora, e como os cidadãos dentro e fora se viraram para lidar com a fome (apelando a comer insetos, ratos e cobras, entre outros, ou denunciar próximos e fazer favores sexuais – leia-se estupro), e também os aspectos políticos de âmbito nacional no problema da fome, como as relações internacionais com EUA, Coreia do Sul, e ex-União Soviética.
Capítulo 2 – A época da escola
O cotidiano escolar das crianças nascidas nos campos de concentração, o tipo de ensino que recebem, as relações com seus professores e guardas, os abusos físicos e mentais, incluindo estupros e lavagem cerebral.
Capítulo 3 – A classe superior
O sistema de classes sociais no comunismo da Coreia do Norte, baseado em laços sanguíneos, hereditariedade e lealdade, o culto ao líder, ou kimilsunismo, define as relações sociais de autoridade, de como há ainda classes, superiores e inferiores, numa sociedade cuja proposta marxista é justamente não ter classes.
Capítulo 4 – A mãe tenta fugir
Sobre o plano de fuga da mãe, o estado mental de Shin, e a constante delação entre prisioneiros.
Capítulo 5 – A mãe tenta fugir, segunda versão
A dificuldade de se adaptar ao mundo fora dos portões, no qual a paranoia comunista não existe.
Capítulo 6 – Esse filho da puta não se emenda!
As torturas, o interrogatório, a traição, a crueldade, e a corrupção das autoridades norte coreanas.
Capítulo 7 – O sol brilha até em tocas de camundongo
O primeiro contato de Shin com a alguém de fora das cercas, a primeira experiência imaginária do que é comida de verdade e liberdade, e também a primeira experiência com solidariedade, amizade pura, verdadeira e desinteressada.
Capítulo 8 – O olhar da mãe é evitado
O re-encontro com o pai envelhecido e torturado, e a execução da mãe e irmão sentado na primeira fila da platéia.
Capítulo 9 – Filho da puta reacionário
A corrupção e os abusos no sistema de delação de amigos e parentes, os maus tratos constantes e a ingratidão gerada pela cobiça oriunda da constante miséria.
Capítulo 10 – Operário
As péssimas condições de trabalho e as mortes por diversos motivos, seja por violência ou por abusos como fome, excesso de esforço, ou acidentes, e os tipos de trabalho em minas de carvão, fábricas ou no campo com agricultura e pecuária.
Capítulo 11 – Um cochilo na fazenda
A passagem de Shin pela fazenda criando porcos com outros escravos em condições sub-humanas, e a economia e política da Coreia do Norte no período, a fome no período do final dos anos 90 ao início da primeira década de 2000; também mais corrupção, a submissão do governo norte coreano ao chinês, e a tentativa de solução popular com o crescimento do comércio, o capitalismo salvando da fome.
Capítulo 12 – Costurar e delatar
A corrupção do sistema hierárquico, os estupros intermináveis de jovens mulheres indefesas, o reforço pelo ódio ao próximo oferecendo recompensas por delações até em situações miseráveis, e o primeiro contato com uma amizade de verdade por mais que alguns dias.
Capítulo 13 – A decisão de não delatar
Os sonhos humildes como comer carne de porco e a renúncia pelas recompensas em troca de um amor fraterno, que alimenta a alma, sem o qual o indivíduo enlouquece, definha, e morre.
Capítulo 14 – A fuga é preparada
De como sonhar e planejar nos mantém vivos e motivados.
Capítulo 15 – A cerca
A morte de um amigo durante a fuga, as cercas eletrificadas e total mudança de perspectiva.
Capítulo 16 – Furtos
O crime belo e moral, o roubo e o contrabando humano como meios para salvar vidas. Mais corrupção gerada pela miséria e despotismo norte coreano. A iniciativa da igreja para resgatar prisioneiros.
Capítulo 17 – Rumo ao norte
O canibalismo soma-se à fome, a corrupção devido à miséria alcança níveis completamente absurdos, inimagináveis, fora dos campos de concentração.
Capítulo 18 – A fronteira
O nível que a fome e a miséria chegaram, para os guardas da fronteira aceitarem subornos extremamente baixos, cigarros e pacotes de bolacha.
Capítulo 19 – China
O preconceito chinês contra os norte coreanos, as estratégias chinesas para manter a ditadura comunista na Coreia do Norte, e o desrespeito chinês aos acordos internacionais e de direitos humanos da ONU.
Capítulo 20 – Asilo
As dificuldades de conseguir trabalho e comida como imigrante norte coreano, a tensão e o medo próximo à embaixada da Coreia do Sul.
Capítulo 21 – K’uredit K’adus
A adaptação a uma cultura livre na Coreia do Sul prejudicada por traumas e pela fome na infância, e o choque cultural. O comportamento dos desertores e a paciência e as providências de estímulo do governo sul coreano com os desertores norte coreanos.
Capítulo 22 – Os sul-coreanos não estão tão interessados
A divisão e os problemas políticos de métodos de tratamento à Coreia do Norte, os constantes ataques do norte contra o sul, e o foco dos cidadãos em educação e trabalho, que resultam num desenvolvimento extraordinário do país, mas que releva questões como ajuda aos desertores do norte.
Capítulo 23 – Estados Unidos da América
A difícil adaptação a uma nova cultura livre, os traumas e o exame de consciência.
Repito: a leitura é obrigatória.